O SOL DO CONGO
De repente, depois de tantas horas de voo, consegui visualisar finalmente o grande rio, longo e escuro, como uma língua negra a ondular sobre a terra, descortinando sua magestade por entre elevações rochosas, montes de barro, matas e encostas, numa vegetação revirada e recortada pelas margens de quem avança pelo ar. Casas minúsculas aparecem nas colinas, outras menores se agarravam aos declives como se temessem cair pelas escavações naturais do terreno. Ao longe, no momento da descida, por entre a imensidão do céu escurecido do poente, sobre a ponta da asa do avião, apareceu fulgurante o sol vermelho do Congo, com toda sua beleza e esplendor, estrondeando em mim a luz cegante dos tempos que virão. Novos tempos em que meu ancoradouro estará lá embaixo, lá mesmo onde o recrudescimento da vida embalará a cena deste momento que se inicia.
Trovejou nas copas, e a noite me levou…
(Raul de Taunay, Brazzaville, 1 de outubro de 2016)