O mal é aflitivo

 

“E assim, convivemos com nossas falhas, acordando litúrgicos, como se reparássemos, somente agora, de que estamos no meio de um tempo de renovação, de conversão e reflexão pelo muito que pisamos na bola, constantemente, insistindo em manchar nossas almas com os excessos do materialismo, da egolatria, e do egoísmo; nesta era em que os sonhos de alguns cidadãos com egos do tamanho de porta-aviões tendem a trazer o perigo de arrebentar este mundo repleto de inocentes vítimas, nos encontramos no mesmo manancial caudaloso que o Mestre de Nazareth nos ofereceu há 2018 anos ao nos convidar a mudar de vida, a mudar de rumo; contudo, não posso dizer que o fizemos, apesar da evangelização de Pedro, Paulo e Lucas, e do exemplo santificado dos sábios, que nos legaram ensinamentos e os sacrifícios dos mártires, de todos os tempos, os mesmos que lutaram pela fraternidade, pelos direitos, pela justiça entre os homens; ainda nos encontramos atraídos pelo bezerro de ouro e assim continuamos, paradoxalmente, a interpretar os encarceramentos e as mortes dos avatares ou dos enviados celestes como um pretexto para vender ovos de chocolate e montar barracas, como se estivéssemos festejando o sofrimento daqueles que deram a vida por nós; ora, não somos santos, nem beatos, e nunca o seremos, viemos carregados de defeitos para purgar, porém a vida acaba sempre nos levando a jejuar, encarar dietas e fazer penitências para permanecer na extremidade boa da liturgia, com saúde, paz e bem. E é tão bom ficar do lado do bem… O mal é aflitivo, triste e imundo, tanto que dizem que, quando um espírito imundo sai de dentro de um homem ou de uma mulher, ele anda por lugares secos, procurando repouso e limpeza; há os que conseguem verdadeiramente limpar-se, livrar-se dos vícios e das impurezas, entretanto, há os que não conseguem; e esses, ao não encontrar um descanso, a limpeza almejada, voltam ao abrigo de onde saíram, encontrando-o, naturalmente, desocupado; então eles entram novamente, e levam consigo outros espíritos piores do que eles, os quais passam a habitar ali e a tornar os homens ou as mulheres receptores muito piores do que eram antes; dá arrepio só de pensar que podemos, sem desconfiar, estar dando carona ou guarida a espíritos extremamente mais sujos e contaminados de maldades do que nós. ”

 

– Trecho de “Nós” (Fragmentos filosóficos de tempos incertos), do escritor Raul de Taunay.

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