Bom dia minha gente; tenham todos uma excelente terça-feira. Amanhã é noite de reveillón e eu já estou preparado, pois realizei ontem um sonho antigo, que me deixou imensamente feliz: ofereci-me um presente tardio de Natal, uma vez que Papai Noel, talvez por eu não ter chaminé, pulou a minha casa desta vez e não deixou nada para mim… eventualmente, tenha sido porque deixei de beber Coca-Cola, sendo ele, ao que parece, pelo menos nas cores, invenção e personagem dessa indústria de bebidas.
Todavia, o fato é que tornei realidade a velha aspiração de entrar no universo artístico-musical e, quem sabe, um dia, vir a fazer duetos e shows com meus amigos Geraldo Ferreira De Araujo, Antenor Bogéa, Tibério Gaspar ou Raimundo Fagner, que conheci em Paris, me visitou nos anos oitenta e acabamos tocando violão por uma tarde inteira na minha “chambre de bonne” em Saint-Germain. Pois é, falei e disse, disse e falei, entretanto, ainda não contei qual foi o sonho que realizei. Afinal, tudo o que um sonho precisa para ser realizado é que aquele que estiver sonhando, realmente, acredite que ele possa consumar-se. É o que torna a vida mais interessante.
Por isso, ao sair ontem do Itamaraty, me dei ao luxo de desviar-me da rota de casa, ir ao centro dos eixos e entrar no Conic, onde caminhei até uma loja de instrumentos musicais. Estava no mesmo lugar de sempre, contudo ampliada, com uma vitrine maior e melhor. Tomei coragem e entrei. Tendo um violão espanhol da marca Esteves, excelente por sinal, contudo, velho, rachado, banguela, sem duas cordas há tempos, e que muito pouco me trazia vontade de tocar, alí fiquei admirado, a baba escorrendo na boca, diante de tantos violões clássicos, acústicos e elétricos, novinhos em folha. Pensei no meu velho Esteves e engoli em seco: -” desculpe, amigão, mas chegou a hora…”
Permaneci hora e meia na loja, escolhendo, provando, afinando cordas e ensaiando o ” If I had a Hammer”, de Trini Lopes, que sempre toquei do meu jeito, e que não era mal, bem ao contrário, segundo minhas irmãs e primas, um espetáculo próprio, que encantava as platéias indulgentes – é bom ter fã clube na família; podemos ser uma droga, contudo recebemos aplausos.
Acabei exagerando no presente que me fiz: comprei um violão acústico Di Giorgio, com afinador embutido, uma caixa de som, um microfone moderno e o seu devido suporte, além dos complementos necessários como um estojo acolchoado, as paletas, jogo de cordas, etc. Enfim, uma brincadeirinha que acabei parcelando para não tirar o leite da mesa das crianças, todavia, que confesso me fez super bem adquirir. Mostrei-me bom e generoso comigo, mesmo se foi apenas para quebrar o paradigma de que um sonho é um devaneio distante, de difícil conquista. Pois dei o passo, comprei a bagulhada toda e…
Bem, voltei para casa, guardei tudo dentro do armário e fui jantar, sem dizer nada a ninguém. Direi mais tarde. Por enquanto, estou deliciado com a perspectiva de que, ao voltar de minhas tarefas de hoje, mais tarde, encontre a me esperar, “num cantinho, um violão”, novo, impecável, funcionando e…acústico.
Por isso acordei com esta cara de quem andou se lambuzando no mel do céu.
Feliz 2015 a todos…
(Raul de Taunay, Brasília, 30 de dezembro de 2014)