De tanto andar pela Africa, ontem, em Copacabana, me senti um forasteiro deslocado e surpreso, do tipo Indiana Jones, cansado, barbudo, exausto de penar por ermos e matas, e abismado por chegar a uma espécie de Versailles do “frisson”, onde apenas se via um pessoal ruidoso, alegre, cheio de gas e, possivelmente, de grana para gastar. Ao menos era essa a impressão que me passavam os jovens e coroas que enchiam os restaurantes, os bares, os cafés e as lojas de Copacabana.
Tudo cheio, mas cheio mesmo, com filas de espera; além de vendedores ambulantes pela orla, expondo e faturando – mesmo uma amiga nossa, que poderia ser minha sobrinha, comercializando seus Street-Burgers, de vários tamanhos e sabores, para uma clientela constante e esfomeada. Convidado por um antigo colega de PUC, acabei entrando no Dom Camilo, igualmente cheio, e com uma música napolitana que me trouxe saudades da vida, e me perguntei, com toda isenção e seriedade – macro e micro – e sem desejar despertar polêmicas, todavia, somente, constatar um fato: onde anda a tal crise de que tanto falam os jornais? Certamente, não em Copacabana.
E, felizmente, convidado que fui por esse celebrado amigo, acabei não pagando a conta, que foi bem salgada, mesmo sem vinho. Ou seja, todo o pessoal que estava no estabelecimento, se pagou o que pagamos, demonstrou que podia abrir mão de um dinheiro bem alto, e que o restaurante faturava bem, muitíssimo bem, mesmo no meio da semana.
Qualquer dia serei chamado a me enfurnar novamente pelo mundo. Um mundo com novas polaridades e novos atores, com novos ricos e novos pobres, com novas e velhas parcerias, com endemias, epidemias e, em alguns lugares, guerras, destruição, fome e abandono. Certamente, levarei comigo a lembrança da “crise” que vi no Rio.
Saúde e paz para todos…
(Raul de Taunay, Rio de Janeiro, 17 de outubro de 2014)