Tantas vezes sentimo-nos o centro do Universo, repletos de soberbia e pretensões, e nos esquecemos a realidade misteriosa e gigantesca que nos circunda. Presos ao mistério da existência em mundos contornando estrelas, afastados por distâncias infinitas, e sem compreender exatamente a que viemos, buscamos sobreviver em algo que não controlamos e interferir naquilo que não entendemos, modificando nossa morada, de terra e água,sem atentarmos para as conseqüências de nossos atos.
Súditos da razão, tentamos fugir da irrelevância. Escravos das aparências, pretendemos penetrar em grades intransponíveis para atingir o inatingível. Corremos perigos constantes para ter um papel de destaque nesta criação que não alcançamos, em um universo cujas proporções formidáveis atordoam nossos espíritos.
Inúmeros são nossos anseios de escapar dessa ciranda, que vemos como jaula e não como vivenda. Uma jaula que angustia e estimula pensadores e intelectuais. Andando ou voando, de um lado para o outro, neste astro, somos tentados a encontrar uma saída que pode ter vários moldes e formas: a academia, a mitologia, a magia, a religião, a superstição – os quais, no fundo não passam de engodos ou simulacros para aliviar nossas almas da tão humilhante sina de viver sem ter saída. Até pensaríamos estar diante das manhas e jogos de nosso inconsciente, entretanto, o fato é que estamos entre ilusões que embalam nossa insignificância.
Dizem que pisamos na Lua. Eu não acredito, mas isso é outra discussão. O importante é o papel que nos está destinado nessa grande viagem universal. Teríamos um papel? Seríamos vírus ou benesse? Mesmo Einstein não descobriu. Nem ele nem Sócrates, Aristóteles, Platão, Descartes, Schopenhauer, Compte, Kant ou Sartre. Há outros, infindáveis, porém as suas filosofias e estudos não foram suficientes para dissecar o mistério impenetrável da razão desse cosmo todo, cujos dados astronômicos são por demais impressionantes e que, certamente, não comportam compreensão ou solução. Todavia, como criadores que nos julgamos ser, ainda podemos lançar mão do átomo e da energia nuclear. O infinitamente pequeno, o infinitamente grande. A eles, o estrondo, o estampido; a nós, o mistério da vida, da eternidade.
(Raul de Taunay, Brasília , 25 de novembro de 2014)