Brasileiros

 

“Nós, os brasileiros, não merecemos um papel apagado e nem nos conformaremos a ele, pois, como os americanos, chineses e europeus, também carregamos a chispa que levou os outros a exercer papeis protagônicos. É retrógrada a visão de que o brasileiro se satisfaz em ser apenas um povo excêntrico, do carnaval e futebol, sem a menor relevância nos arranjos globais contemporâneos. Não apenas é retrógrada, mas constitui erro crasso de avaliação e estratégia. Não somos irrelevantes, nem conformados. Somos mais de 206 milhões e queremos nosso lugar ao sol, nosso crescimento, o crescimento de nossos filhos, nossa plena integração ao sistema compartilhado pelas lideranças internacionais contemporâneas. Contudo, há várias explicações para o fato de que vários brasileiros ainda acreditem na noção imposta pelos analistas de fora de que o nosso universo é dividido entre mocinhos e bandidos – os mocinhos sendo os “cowboys” e os bandidos os índios, ou seja, o resto da humanidade que deseja evoluir. Todavia, inexplicável é o fato de que muitos desses brasileiros parecem sinceramente torcer para que, dentro dessa lógica, as coisas não mudem e o Brasil se mantenha “onde lhe é devido”, ou seja, no escalão inferior. Isso me faz duvidar se eles são mesmo brasileiros, se têm amor ao seu país, pois, além de desinformados sobre os avanços brasileiros nos últimos 40 anos, eles sinceramente torcem pelos “de fora” e não pela sua gente. Seu discurso é como uma mandinga contra o crescimento de nossas cidades, de nosso parque industrial, de nossa infraestrutura, de nossa rede financeira e de abastecimento. Mesmo se o mundo inteiro identifica progresso e acúmulo de capital em mãos brasileiras, eles buscam avidamente argumentos e notícias que desqualifiquem os esforços canarinhos pelo desenvolvimento. Seriam mesmo brasileiros? Sendo o que forem, o fato é que não compreendem, ou aceitam, que o povo brasileiro, embora eja simples, humilde e pacífica, é esperto, inteligente, empreendedor e bom de negócios – e, que, sem dúvida, começa a expandir seu horizonte de atuação, apesar da torcida deles em contra.”

 

– Trecho de “Nós” (Fragmentos filosóficos de tempos incertos), do escritor Raul de Taunay.

Deixar uma resposta