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Dualismo que nos equilibra

Com tanta gente filosofando pela rede, nas páginas da literatura, tanto autor despejando suas complexidades sobre os outros que, ainda que reconheçamos o quanto com isso nos aproximamos do sentido das verdades universais, pairamos ad eternum entre átomos, espaços vazios e opiniões nascidas de realidades múltiplas das nossas várias percepções – pois cada um tem a sua – uns acreditando que os dinossauros ainda existem, outros orando para deuses orientais ou ocidentais, ou das selvas, ou mesmo para os Orixás; alguns acreditam nas revoluções para varrer a corrupção das oligarquias, outros são as próprias oligarquias; muitos gostam de futebol, vários

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Mistério da vida

Na vida de um povo há sempre um momento crucial; o nosso parece ser agora, pois, para nós, é difícil pensar em algo novo para fazer neste planeta que já não tenhamos feito, sobrando-nos a fúnebre perspectiva de morrer – isso sim, nós jamais fizemos, e, em verdade, nem sabemos se gostaríamos, pois apreciamos loucamente esta sucessão de acontecimentos diários a que chamamos existência, embora saibamos que, mesmo sem sermos ainda uns inúteis a serviço das máquinas, vivemos o bastante, sentindo o cheiro dos problemas do mundo, tentando resolvê-los, e resolver os nossos, que não são poucos, ocorrendo que, sendo

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O eu que não sou

O EU QUE NÃO SOU Penso que, para mim, seja complicado evitar-me. Certamente, eu deveria ser capaz de sair de minha pele por uns momentos, escapar de mim próprio, tirar férias desse eu que me coopta, todavia não consigo evitar o aroma de meu corpo com tanta intensidade quanto alcanço explodir de prazer e alegria a cada vitória do time do meu coração. Deve existir um motivo para eu estar agarrado a este corpo mediano, estas saliências faciais, esta textura e peso, esta massa muscular, esta expressão que não desgruda e que me embala, vida afora, como se fosse uma

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Cartilha aberta

CARTILHA ABERTA A noite o encontrou do outro lado do oceano, sem saber exatamente quando ou com quem dividiria algum tipo de comida, e muito menos onde dormiria. O pensamento pairava acima das árvores, como o de uma alma penada, a balançar-se no silêncio de todas as interrogações: onde dariam as trilhas daquele caminho onde jamais tivera qualquer contato ou mantivera quaisquer esconderijos? Onde ou quando, em meio à grande massa de expectativas entrelaçadas, conseguiria resgatar-se da profunda emoção que o manietava ao impenetrável mundo do desconhecido. A vida como conhecia em sua terra terminara abruptamente como se fosse um

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O Sol do Congo

O SOL DO CONGO De repente, depois de tantas horas de voo, consegui visualisar finalmente o grande rio, longo e escuro, como uma língua negra a ondular sobre a terra, descortinando sua magestade por entre elevações rochosas, montes de barro, matas e encostas, numa vegetação revirada e recortada pelas margens de quem avança pelo ar. Casas minúsculas aparecem nas colinas, outras menores se agarravam aos declives como se temessem cair pelas escavações naturais do terreno. Ao longe, no momento da descida, por entre a imensidão do céu escurecido do poente, sobre a ponta da asa do avião, apareceu fulgurante o

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Meu diapasão

Meu diapasão Jamais eu pensei escrever Esta sonata barroca, A brisa que veio tão louca Me trouxe o amanhecer. Se somos no mundo irmãos E se vemos no céu uma lua, Porque nos matamos na rua Sem ter a menor compaixão. Eu te trago somente a palavra, O sentido da arca sagrada, A nota que afina a toada, Os clarins de uma revoada. Na busca desta redenção Eu fico com o meu diapasão Que vibra qual acordeão E alegra o forró da União. Vamos à festa, querida, Dançar e rodar pela vida, Amar uma causa vencida Buscar a terra prometida.

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