O primeiro amor
“Dentre os alguns amores que se tem na vida, o primeiro amor é sempre conservado na memória como um momento doce em que a vida teria sido carinhosa conosco; no meu caso, ela tinha treze anos e eu era mais jovem ainda e bastaram-me alguns segundos para saber que nunca vira nada igual, que eu podia dizer tudo sobre ela: quem era, como nos conhecemos, o tom de sua face, a cor de seus olhos, as formas de seu corpo, como cheirava bem, quão maviosa era sua voz, o quanto me fazia estremecer… e eu ainda posso vê-la, senti-la
Gravíssimo problema
“Muitos de nós pensam nos outros e buscam melhorar o quadro global do presente contexto, que indica que a riqueza de 1% da população mundial supera a dos 99% restantes dos habitantes do planeta; naturalmente, é tão gritante o fosso entre a minoria riquíssima dos homens e mulheres e a maioria paupérrima que dá vontade de entrar na arena de combate no intuito de matar ou morrer pela causa da justiça; impossível não sentir nada diante desta disparidade gritante; uns poucos não tem mais onde guardar dinheiro, nem saberiam por onde acumular o saldo constantemente crescente de lucros gigantescos que
De homem à criança
“Todavia, se pensarmos bem, a questão é sempre encontrar respostas para o fato de que somos, cada um de nós, homens e mulheres, nossos principais inimigos, nossos mais temíveis e instintivos beligerantes, em pleno século XXI ainda vemos o forte achar que tem direitos sobre o fraco, ainda assistimos os lobos se camuflarem em cordeirinhos para atacar, invadir e dominar o que não lhes pertence gerando estados de guerra, e a guerra não tem justificativa, é uma aberração, uma abominação irresponsável, uma covardia impiedosa, uma desumanidade infinita, é a falência da inteligência e do espírito universal; enquanto a paz é
Súditos da razão
Tantas vezes nos sentimos assim, protagonistas, repletos de soberba e pretensões, e nos esquecemos a realidade misteriosa e gigantesca que nos circunda. Presos ao mistério da existência em mundos contornando estrelas, afastados por distâncias infinitas, e sem compreender exatamente a que viemos, buscamos sobreviver em algo que não controlamos e interferir naquilo que não entendemos, modificando nossa morada, de terra e água, sem atentarmos para as consequências de nossos atos; súditos da razão, tentamos fugir da irrelevância; escravos das aparências, pretendemos penetrar em grades intransponíveis para atingir o inatingível e, com isso, corremos perigos constantes para ter um papel de
Sobre o amor e o tempo
Estrondeiem, neurônios, estrondeiem, pois queremos imaginar que tudo o que a minha geração viveu desde que veio ao mundo, na metade do século passado, foi obra de um instante, e o que se seguirá até o fim de nossos dias sobre este planeta deverá ser ainda mais veloz, prenunciando uma proximidade incômoda ao inevitável salto a que estamos fadados a dar no vazio misterioso da eternidade: já não temos voz, mas teimamos em cantar, já não temos pernas, mas insistimos em avançar, a passos rápidos, o pensamento aberto a nos descompor para seguir a onda que nos arrasta; no entanto,
Escrever, escrever. Por quê?
Escrevemos, escrevemos, escrevemos… Escrevemos tanto que em nossas cabeças não existe mais a luz do dia ou a escuridão da noite; sentados ou em pé, no trabalho ou no lazer, passeando ou encafuados, digerindo, consumindo ou jiboiando, nossos pensamentos fazem que escrevamos e nos recordemos que ainda não escrevemos o que devemos ou o que ainda não formulamos – um escrito que não se fermentou, um monitor em que escrevemos o que escrevemos, e já foi tanto, mas nunca o suficiente, porquanto, quem escreve só quer escrever, descrever, exprimir-se, redigir, contar algo, compor a forma, sustentar a palavra, ortografar um
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