Depois de circular sozinha, durante 5 dias, por Guarulhos, SP, e Lomé, minha bendita mala chegou bem a Libreville e me foi entregue… ufa!!! Me deu até vontade de escrever um poema do tipo “Poema da Mala Perdida e Outras Estórias” que, pelo interesse que poderia despertar uma valise extraviada, teria chances de conquistar boa crítica e público. Afinal, são as desgraças alheias que dão ibope no vasto manancial das ocorrências e, do momento em que ela, com todos meus pertences e produtos preventivos de higiene e proteção, como repelentes e anti-sépticos, me deu esse susto de não chegar, por outro lado, passou a pertencer mais ao universo da novela, sob a vista de amigos sinceramente preocupados, do que ao dia a dia de quem a havia efetivamente perdido.
Em mãos operárias, de esteira em esteira, repassada de balcão em balcão das companhias diversas, ela foi objeto de comunicações, demandas burocráticas, formulários, providências matinais e, porque esconder, desânimo depois do quarto dia assistindo os interlocutores das companhias aéreas transferirem responsabilidades entre si.
Contudo, Deus foi Pai e se apiedou de mim, que andava praticamente “nú com a mão no bolso” desde o último sábado, tomando banho cada vez mais barbudo e tendo que esperar, embrulhado em toalhas, que a arrumadeira lavasse e secasse minha única roupa, a cada dia, para que eu não começasse a feder no trabalho.
Recordando o que me lembro de um poema que li há tempos da grande goiana Cora Coralina, cuja vivência do mais puro dos Brasis muito me marcou, e traduzindo-o para o meu caso, poderia concluir este seriado transformando aquela forma poética para este canto de alívio:
“Vivia dentro de mim
Um navegante assombrado,
De barba por fazer,
Acocorado ao pé da escrivaninha,
Olhando para papéis.
Benze quebranto,
Bota feitiço…
Ogum, macumba, Orixá,
A mala demorou
Mas acabou de chegar.
Viva eu, viva Oxalá.”
E viva mesmo o fim de mais uma novela; vamos agora virar a página e assistir, com atraso, pelo “tablet”, via youTube, o debate presidencial da Band. Depois comentarei.
Muitas saudades de todos e de nossa terra,
(Raul de Taunay, Libreville, 28 de agosto de 2014)