“No passado se dizia que bom cabrito não berra, ou mesmo, em outro sentido, que cão que ladra não morde; poderíamos passar o dia inteiro recordando dizeres antigos que sobreviveram a passagem do tempo e se mantiveram em nossa época; quem de nós não teve alguma avó, tia ou primo que levava na ponta da língua alguns deles para dizer, tais como: criança, cachorro e soldado não tem querer; Deus ajuda quem cedo madruga; não se faz omelete sem quebrar o ovo; e mentira tem perna curta. Para os dias atuais, lembremo-nos da máxima do malandro – se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem; no fundo, boa romaria faz quem em casa fica em paz, ou quem tem consciência que, entrando na chuva, é para se molhar; antigamente, ponderava-se que, escreveu, não leu, o pau comeu, ou então, diga-me com quem andas e te direi quem és; por temperamento, acreditamos que tristezas não pagam dívidas, razão pela qual buscamos ser amigos dos que nos cercam, enxergar nos outros o que existe de melhor, acreditar na bondade e na pureza de alma de cada um; isso nos ajuda nas batalhas que teremos que lutar, nem que sejam muitas, bem sabemos, mas que são implacáveis como as batalhas costumam ser; por isso é melhor descobrir mananciais de água doce em vez de tempestades de água salgada; e como galinha velha dá bom caldo, deixo ressoar a antiga máxima que nos garante que, de poetas e de loucos, todos temos um pouco; e sabendo que águas passadas não movem moinhos, vamos em frente que atrás vem gente, andemos ganhar a vida, trabalhar, descolar o pão das crianças, pois ninguém faz isso por nós; entretanto, vamos devagar, na santa paz, pois apressado come crú e devagar se vai ao longe; e sejamos cuidadosos para não criar litígios, pois quem pariu Mateus que o embale.”
– Trecho de “Nós” (Fragmentos filosóficos de tempos incertos), do escritor Raul de Taunay.