“Não fomos nem perfeitos nem justos, nem poderíamos ser, e nem procuramos; na balança que se avistava diante de nós todas as culpas, as falhas, as inconsistências e os humores não tiveram tanta importância, foram esquecidos com o tempo e se tornariam invisíveis, fundindo-se e confundindo-se com a essência que nos levaria a uma página derradeira do último livro da prateleira final, virada pelo passado de onde viéramos, um passado em que a brisa soprava sempre mais forte no início da manhã, num momento em que os olhos, ainda sonolentos, se espraiavam pela suavidade que infundia na pele os primeiros raios de sol, formando entre as águas um momento depungimento doce, um estado de alma, um aperfeiçoamento de outrora inóspitas paragens em busca de outros frescores, mais tenras paisagens, absortas belezas da natureza em flor, formações de pássaros no céu aberto, deslumbrantes cenários que nos cercam e que fundamentam nossas essências; neste universo de forças em que se extrai a vida, buscamos entender o conhecido e desvendar o desconhecido em seu pleno significado e, para nós, cada amanhecer representa o reconhecimento daquilo que conhecemos e nos traz tranquilidade, margeado do amor que nutrimos, das amizades que possuímos, dos desenhos que nos inspiram: o que desconhecemos está longe dos olhos, sendo mais aflitivo e distante do coração, embora recheado do desejo, da necessidade que nos domina em penetrar no mistério à procura de outras interpretações… razão, racionalismo, empirismo, idealismo, pouco importa os invólucros quando a pauta é vasta e a paisagem é deslumbrante como o amor que se apresenta nas nossas vidas.”
– Trecho de “Nós” (Fragmentos filosóficos de tempos incertos), do escritor Raul de Taunay.