Sol e Chuva

A chuva volta a cair com intensidade sobre a capital do país após semanas de seca que estavam destruindo as lavouras e dificultando o crescimento de minhas árvores frutíferas. Apesar do alívio, confesso, contudo, falta-me o sol. Estou profundamente grato pela tempestade que, agora, desaba, porém, é-me difícil esconder a que ponto os raios solares me ajudam a encarar a rotina diária, a persistir no esforço de manutenção da saúde.

No fundo, sou um adorador do Sol, embora prefira dedicar versos à lua. É o sol, não a lua, que ocupa na história o papel de arquiteto do mundo e provedor dos humanos. Sem o sol, nada teríamos para nos fazer crescer e multiplicar. Sendo a filosofia irmã das ciências empíricas, não é desabonador citar Platão para louvar o sol, pois este usou o astro-rei como metáfora, outorgando à filosofia, em seus renomados cadernos, o papel de ajudar os escravos a libertar-se de sua condição subalterna por meio de uma aproximação progressiva em direção ao sol. O sol seria o avanço, a libertação.

Outros pensadores associaram a clareza do sol à beleza, à perfeição do intelecto, à compreensão das coisas. Por outro lado, a descoberta de Copérnico de que o Sol não orbitava a Terra, e sim, vice-versa, por exemplo, levou Kant a bolar sua metafísica e Bertrand Russel a argumentar que o sol que vemos não é mais o sol que é, tendo em vista as distâncias cósmicas e a velocidade da luz.

Por isso, pelas janelas que abre na alma, refletir sobre o sol, seu papel, sua essência, o calor que emana dele, dando-nos meios de viver, equivale, pois a repensar o mistério e a casualidade de nossa condição humana e planetária. Nossa… Há tanto a dizer, todavia, vamos deixar isso para outra ocasião. Comecei o texto louvando a chuva, e vou terminá-lo ao estilo Jorge Ben, exaltando a chuva pois continua ” chovendo chuva, chovendo sem parar”. E continuando nessa toada, eu também vou fazer uma prece a Deus nosso Senhor, para a chuva continuar a molhar as meus divinos amores – minha mangueira, limoeira, alixieira, oliveira e bananeira – pois são muito lindas, são mais que infinitas, são belas e sinceras, inocentes como a flor…

E assim concluo no embalo do que me veio hoje com esta chuva que é ótima mas que me tornou saudoso do sol. Uma chuva que me fez tentar esta filosofia condensada, consumada na mais absoluta preguiça em me alongar. Desculpem o mau jeito, nem sei porque me meti nesta encruzilhada de embaralhar Platão com Benjor, num discurso sem pé nem cabeça. Só faltaria mesmo recordar que sol e chuva dá casamento de viúva. Contudo, nem sempre dá um obra amada. O sol sim é amado pois é ele que brilha, para nós, seus amores.

Porém, não hoje…

(Raul de Taunay, Brasília, 24 de janeiro de 2015)

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