Assim Caminhamos

Viramos todos Charlies da noite para o dia após a horrenda matança dos cartunistas do CH em Paris. Governos, redações, populações inteiras, a própria rede social vertendo opiniões e reações variadas, pacíficas ou violentas, maduras ou imaturas, racionais ou irrefletidas, que fazem tremer os alicerces filosóficos e humanitários de nossas bases civilizatórias com uma violência e um ódio que ultrapassam fronteiras e que, além de detestáveis, estão se acumulando de forma perigosíssima, comprovando que a falta de justiça, de critérios e de espiritualidade poderão nos afundar no lodo da insegurança. É mesmo assim que caminhará o mundo? É dessa forma que almejamos nosso futuro, de matança em matança, de explosão em explosão, de bombardeios em bombardeios, de invasões em invasões, até a detonação final que acabe de vez com a nossa raça e as resistências de nosso exaurido planeta? Sim, porque nos horrorizam não apenas as mortes dos jornalistas franceses, mas as mortes de populações civis inteiras, dentre as quais crianças e velhos, varridos da vida por bombardeios que jamais cessaram desde o acordo de Yalta, de lado a lado, pois a violência além de satânica é plural.

Dentro dessa ótica, ou prisma, para mim, a Segunda Guerra Mundial nunca terminou. Contudo, são maioria os analistas e pensadores que acreditam que ela terminou sim, porém que as potências beligerantes já teriam entrado numa nova era de guerra mundial – a III Grande Guerra – que representará um momento em que, novamente, as armas, os exércitos e os capitais decidirão se prevalecerá na Terra o espectro integral da dominação corporativa ou uma superdemocracia contratual, resultante de um diálogo mais plural de governabilidade entre os blocos geográficos, que assegure, para todos, a sobrevivência dos povos num planeta justo e saudável.

De qualquer forma, o paradigma civilizatório corre hoje perigo. Precisamos não somente de racionalidade, mas, sobretudo, de transcendência. A tecnociência deve aflorar nos próximos anos, se a conseguirmos desenvolver como instrumento de união e solidariedade e não como meio de aperfeiçoamento da máquina da submissão e dos antagonismos. Devemos ter consciência de que não existe ação sem reação. O que ocorreu em Paris e que chocou o mundo, muito mais do que chocaram os bombardeios às escolas da ONU em Gaza, apinhadas de crianças, que também morreram, é crime hediondo que não pode se repetir, todavia, que se repetirá, com maior intensidade, se a lei do “olho por olho, dente por dente” e se a atual mentalidade, preconceituosa e materialista das atuais sociedades ditas civilizadas, continuarem a prevalecer entre nós, exacerbando os ânimos e sacrificando a paz e a harmonia.

Não combateremos o dito “terrorismo” como o chamamos – ou a “resistência”, como os muçulmanos extremistas encaram essa luta sem fim – com mais bombas e exércitos, mais intromissão e matanças. A cada Bin Laden que morre, surgem 10 novos insurgentes. Vejam esse novo Estado Islâmico, emergido da incoerência ocidental, que o financia e lhe dá armamento, ou o ressurgimento dos Talibans. Não são eles as provas contundentes de que a receita até hoje seguida para dominar o Oriente Medio, o Norte da Africa e a Ásia Central tem sido uma catástrofe ambulante? Uma catástrofe que, não duvidem, num contexto mais amplo, resultou na violência que eliminou os cartunistas do CH.

Como fazer para não sermos eliminados ou não entrarmos numa espiral de insegurança sem fim neste planeta? A resposta está no exemplo moral brasileiro, que extrapola o universo meramente material. Nada a ver com aspectos da corrupção ou dos entrechoques políticos em nosso Patropi, porém, tudo a ver com nosso composto espiritual e genético, que atiça a fraternidade e o avanço da união entre os povos. Contudo, isso é papo profundo que deve ser desenvolvido com seriedade; deixemos para outra ocasião.

(Raul de Taunay, Brasília, 9 de janeiro de 2015)

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