Nosso Mundo, Nosso Exemplo

É inevitável reparar, ao ler certos comentários da rede ou certos textos em nossa mídia, que prevalece entre alguns brasileiros a visão de um mundo que ainda não teria renascido da antiga ordem de Yalta. Alguns brasileiros ainda enxergam, de um lado, os filhos do bem, defensores do liberalismo econômico, e os hereges, filhos do mal, articuladores do coletivismo estatizante. Na mente desses brasileiros, a vitória dos aliados na II Guerra Mundial, que recrudesceu no antagonismo bipolar EUAxURSS, ainda não teria empurrado o planeta para além do período da dissolução da União Soviética. Muitos brasileiros ainda acreditam na existência de mocinhos americanos, de um lado, e de bandidos russos, do outro.

A história foi sempre um celeiro de mocinhos e bandidos. Normalmente, quem vence as batalhas vira mocinho e, quem as perde, passa a ser o bandido da vez, ou da “nova ordem” que começa a prevalecer. E essas “ordens” também foram inúmeras e sucessivas. Nestes últimos tempos, por exemplo, já tivemos a ordem da Paz de Westphalia, que durou 150 anos; a ordem do Congresso de Viena, que durou 100 anos; a ordem do Tratado de Versalhes, em 1919, inspirada no idealismo do Presidente Wilson; a ordem de Yalta, em 1945, que esticou o tabuleiro da Guerra Fria; e a ordem de 1989/90, nascida do colapso da União Soviética. Todavia, esta última ordem progrediu na direção de um novo rearranjo que avança pelo século 21, apresentando indiscutíveis novas polaridades. Temos que ter consciência delas para não mais cairmos no “conto do vigário” de achar que o mundo não evoluiu e que devemos nos conformar a um papel secundário. Evoluiu sim, e muito, e nós evoluímos com ele. A nossa recente vitória na OMC é sinal de evolução, o BRICS é sinal de evolução, a nossa zona de influência do Mercosul é sinal de evolução, o IBAS é sinal de evolução, o G-4 é sinal de evolução, a UNASUL é sinal de evolução, o empreendedorismo nacional crescente no exterior é sinal de evolução, o nosso reencontro com a África é sinal de evolução, o exemplo moral brasileiro pela paz internacional é sinal de evolução.

Tendo tudo para atingir sua grandeza, o Brasil mostrou neste último domingo, ao votar, que é um país ordeiro e responsável. O brasileiro não quer mais a bagunça, a pobreza ou a ignorância como imposição da fatalidade. Cada voto brasileiro, no segundo turno, seja para que candidato for, demonstrará a legitimidade de nossa democracia, o alcance de nosso modelo neste mundo de guerras e tensões, a nossa esperança face às mudanças extraordinárias do processo globalizador. A nossa busca deve ser por um léxico próprio, por uma maneira de encarar os problemas com os pés postos em solo brasileiro e a mente a visualizar melhor o que realmente ocorre no ordenamento planetário, onde os ricos de ontem são os empobrecidos de hoje, os democratas de ontem são os autoritários de hoje, e onde a tecnologia é de todos e tende a envolver o ser humano a uma rede que poderá ser libertária ou aprisionadora. Cabe a nós decidir…

(Raul de Taunay, Brasília, 7 de outubro de 2014)

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